Editorial: Bolsonaro, o exemplo de inabilidade política, abre espaço para atitudes autoritárias dos governadores

Apoiadores bolsonaristas criticarão o presente texto, porém o compromisso aqui é com os fatos. Quando há atitudes acertadas do Governo Federal, como a aposta na hidroxicloroquina, devem ser destacadas. Contudo, eventos recentes referentes à vigilância de cidadãos através da colaboração de empresas de telefonia móvel, aliás algo de competência da União e não dos estados, tem ocorrido sem a menor manifestação de Brasília. O silêncio dos Três Poderes Federais sobre isso demonstra uma falta de coordenação e comando que desde o início da crise, mês passado, demonstra a inabilidade política do Presidente. O monitoramento contínuo de cidadãos pode ser comum em países autoritários como China, Coréia do Norte, Irã, Cuba, etc., entretanto, em democracias ocidentais que valorizam as liberdades individuais, não são apenas inadmissíveis como perigosas.
Certo, mas não foi o chefe do Executivo federal que determinou essa vigilância, então por que culpá-lo? A culpa não é direta, mas há inabilidade política de Bolsonaro em coordenar ações de combate à disseminação do Coronavírus desde o início, o que gerou o atual distanciamento entre União e entes federados, traduzido nas discussões entre Presidente e diversos governadores. Ah, mas Bolsonaro tentou conversar, porém há uma frente política para enfraquecer e minar as ações do Presidente - resposta possível de um bolsonarista. Considerando que haja essa frente de fato, mais um erro presidencial em deixar tal frente ganhar força, uma vez que não consegue articular uma frente oposta de apoio que suprima tal fenômeno, ou ainda negocie um meio termo aceitável e queira sustentar-se apenas no apoio popular que desconhece as manobras políticas que podem ser feitas.
Dessa forma, o ditado de Edmund Burke (pai do conservadorismo, o qual Bolsonaro defende e representa) torna-se real: "Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada." Aliás, Bolsonaro deixou isso claro no último pronunciamento, em que simplesmente (e ironicamente como na Sexta-Feira Santa original, fez como Pôncio Pilatos) lavou as mãos e colocou a "responsabilidade" nos governadores. Portanto, lavando as mãos, saindo as ruas (numa atitude que beira a pirraça só para dizer que sai mesmo com contraindicações), isolando-se politicamente, Bolsonaro dá exemplo de inabilidade política.
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