Editorial: O buraco-negro de votos também conhecido como urna eletrônica

Editorial por Thiago Barbosa 

O buraco negro é a força mais misteriosa da natureza. Um ponto infinitamente pequeno no espaço que concentra a massa de milhões de sóis. A gravidade imensa do buraco negro gera uma singularidade no tecido espaço tempo de tal forma que nada escapa sua gravidade, caso atinja seu horizonte, nem mesmo a luz. Esse mistério da natureza até hoje é estudado e ironicamente se compara a um evento nada natural, o voto eletrônico.

Cientistas estudam buracos negros há décadas para entender seu funcionamento. Como surgem, qual o comportamento de corpos celestes a sua volta e também para estudar a força gravitacional esmagadora desse fenômeno. Contudo, o maior desejo de todo cientista é poder observar o que há dentro do buraco negro, poder ver além do horizonte de eventos que é, de forma bem leiga para compreensão, a bola preta que se veria ao olhar para um. O que há dentro do buraco negro é como uma pérola guardada dentro de uma ostra. Não é possível ver, pois está sempre dentro do horizonte de eventos.

Mas por que isso ocorre? A luz é informação, é o visível que se conhece. Quando a luz é capturada pelo buraco negro ela não escapa e logo não se sabe o que há além do horizonte de eventos, pois a luz não volta para nos contar o que há ali, logo não é possível ver o que há dentro. Esse fenômeno do universo é um dos mais intrigantes atualmente. Pois o ser humano, em sua curiosidade e espírito desbravador quer saber o que há ali afinal.

Dito isso, as atuais urnas eletrônicas do Brasil funcionam como um buraco negro. O eleitor realiza o voto, ele é supostamente computado pela urna, porém depois não se sabe qual o caminho que ele segue, o que é feito, para onde vai, se permanece intocado para o candidato desejado. Esse é o dilema em torno do voto impresso auditável. A proposta da deputada Bia Kicis (PSL-DF) visa ser possível realizar a conferência desse caminho por amostragem.

Não tem como ver ao vivo o que é feito com o voto após computado na urna eletrônica. Porém é possível, no momento do voto, emitir um papel (sem identificar o eleitor) para que no ato, a pessoa confira que seu voto foi registrado corretamente. Assim, o processo ganha maior transparência e confiabilidade sem expor a identidade do votante. Mas por que não basta realizar a Zerésima e nem o boletim de votos por zona que servem justamente para esse propósito?

O Sociedade Inteligente já se debruçou sobre uma explicação mais detalhada no artigo: Democracia Digital: O voto eletrônico no Brasil é seguro? Aqui é importante focar no seguinte: A zerésima é apenas um boletim que informa que a urna está "vazia", isto é, não ficou nenhum voto para trás. Já o boletim dos votos dos candidatos por zona eleitoral indica apenas a quantidade de votos que cada candidato obteve de forma ampla e após o encerramento das eleições no dia. Dessa forma, há ainda espaço para possíveis fraudes no trânsito dos votos para o TSE e também haverá sempre o elemento humano que comanda a tecnologia.

"Mas não há comprovação de fraudes, e essa conversa de que pode haver fraude por não ser possível comprová-la é conversa golpista". Novamente cabe a analogia do buraco negro. Uma vez finalizado o voto, o eleitor não o vê mais, não há nenhum respaldo físico de que o voto realizado será contabilizado corretamente. Há somente uma fé em um sistema eletrônico que não é infalível. De fato não há evidências de fraudes nas urnas eletrônicas, pois se elas existirem, estão além da tela que indica "Fim" no término do voto. Como a pérola escondida dentro da ostra, como a luz dentro do buraco negro.

Cabe salientar que muitos países rejeitaram a urna eletrônica pela sua falta de transparência, e a maioria dos que a adotam, usam o artifício do voto eletrônico com comprovante impresso para resguardar os resultados. Somente três países confiam no processo 100% eletrônico: Butão, Bangladesh e Brasil. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Editorial: Desinformação é a estratégia.

Editor do Sociedade Inteligente é censurado no Twitter após debater com Diretora de TV